CUIDADO COM A SÍNDROME DO RETROVISOR

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A pecuária Goiana e Brasileira descrita por quem a vive e “carrega o pó da viagem”.

O mercado financeiro de ações, derivativos e papéis negociados em bolsa tem alguns jargões, como os dois a seguir: “pessoa física só entra no fim da festa” e “se a conversa chegou no barbeiro ou no engraxate, é melhor vender mesmo”.

As duas frases acima, se referem à situação que ocorre quando um ativo, uma ação ou uma aplicação ficam rendendo acima da média por bastante tempo. No início deste período de “vacas gordas”, via de regra, somente as pessoas do próprio mercado financeiro com mais vivência ganham dinheiro com o ativo que está se valorizando, “pegando o movimento deste o início”. Mas com o passar de algum tempo, a informação chega aos investidores individuais, as “pessoas físicas”, e eles acabam “pulando para dentro da mesma canoa”.

Porém, geralmente fazem a aplicação meio tardiamente, já no final do movimento de alta e muitas vezes na hora em que geralmente os analistas estão recomendando a “virada de mão”, ou seja, a saída da aplicação… Vejamos nas linhas a seguir, se o “bovino brasileiro” teria algo com isto, já que como foi dito no NF2R da última semana, nosso grau de investimento segue mantido.

1) COMO ESTÁ O NOSSO TETO (SP/MS)?


Em jun/15, no NF2R #168, caracterizou o percurso mais provável do boi gordo do restante do ano, como uma navegação nas “águas revoltas de um lago pacato”. E é exatamente isto que estamos vendo a semanas, ou melhor, a meses: a tendência flat com leve viés positivo segue inalterada. A média dos últimos 100 indicadores, difere em apenas R$ 0,24 do indicador desta última sexta-feira.

A variação do indicador da última semana foi de R$ 144,17/@ (variando de R$ 142 a R$ 147) para R$ 144,11/@ (variando de R$ 140,50 a R$ 147), uma variação ínfima, mas que numericamente interrompeu a sequência de “altinhas” que vínhamos tendo até então. “Nada digno de nota”, portanto (como diria meu Prof. de dermatologia canina).

No mercado físico da última sexta-feira, vimos o mesmo intervalo de preços da semana passada (R$ 141 até R$ 145 à vista, com “personalitè” de R$1/@). Já no MS, a “terra dos comedores de guavira”, o mais comum continua sendo o valor de R$ 135/@ à prazo. Sem espaço para quedas de preço, portanto! Mas com diminuta tendência de nova decolagem…

As escalas aumentaram um pouco o nível de tranquilidade para a indústria, pois agora estão entre a segunda (dia 28) e a quarta (dia 30), com o “DIA D” na terça, dia 29/set e o placar em 6 dias (entre o acordo da venda e o dia do abate). Já tem casos de frigoríficos agendando bois para 05/out, sem espaço para boi EU para os próximos 2 meses…

O STATUS DO BEEFRADAR vai para:

25% queda (leve) : 50% estabilidade : 25% para alta (leve)

2) E AQUI, NA TERRA DO PEQUI?

Imitando a praça paulista, nada de novo no GO: R$ 134 ap e também R$ 135 ap para o boi comum e com o ágio EU cada vez mais escasso. O “personalitè” ainda é frequente (cerca de R$1/@). Quanto as escalas, elas seguem estáveis, estando agora entre quinta (24) e a segunda (28).

O diferencial de base (GO x SP) não conseguiu romper da barreira dos R$ 10/@, infelizmente e segue exatamente nesta linha tênue. Sem tendência definida, a arroba das vacas continua com deságio de pouco mais de 5% (na nossa análise não tem como abrir mais agora).

3) HORA DO QUILO: “um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la” (George Santayana). Comentário: tudo a ver com o título deste.

4) TO BEEF OR NOT TO BEEF: segue o link informativo sobre o “Pacto Sinal Verde”, do Estado de Mato Grosso do Sul, um programa que envolve frigoríficos, órgãos estaduais e associações de classe com o intuito de melhor atender o consumidor de carne: http://www.beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/giro-do-boi/pacto-sinal-verde-visa-impulsionar-a-producao-e-comercializacao-da-carne-bovina-do-ms/

Nossa opinião: iniciativa válida, sobretudo por iniciar o longo caminho da “escala dos 1.000 degraus“, que é o tema qualidade de carne. Mas, deve ser estendido à toda indústria frigorífica do País, caso contrário, perde representatividade.

5) FOTO DA SEMANA: separamos não apenas uma, mas algumas fotos de diferentes companheiros, que mostram a operação de confinamento, na sequência. Fica registrado o nosso agradecimento aos amigos.

6) O LADO “B” DO BOI:

6.1.) RAPIDINHAS DO BOVINO BRASILEIRO

6.1.1) Melhora no atacado de carne: está certo que a produção de carne sofreu ajuste por conta dos frigoríficos e está aparentemente mais alinhada com a oferta restrita de animais terminados, o que diminui a disponibilidade interna do produto. Mas, a valorização do traseiro vista nos últimos 10 dias, chega a intrigar, afinal de contas, o cenário econômico recessivo e inflacionário, compõe um quadro que não privilegia em absoluto este tipo de tendência de preços. Seria o efeito positivo indireto de uma pequena (mas importante) melhoria na exportação bovina? Será o efeito positivo indireto de uma considerável (e importante) melhoria na competitividade com a carne de frango e suína? (estas, por experimentar um franco aumento de volumes exportados e do custo de produção, seguem uma “toada” de alta). Ainda não está claro. Mas é uma boa notícia e o fato é que os frigoríficos tiveram êxito na recuperação da margem e estão fazendo mais dinheiro com o boi do que faziam a 12 meses atrás.

6.1.2) Piora da instabilidade política: Ministro do STF definindo o governo federal como uma “cleptocracia” (em canal aberto); ajuste fiscal proposto falido; impeachment e renúncia cada vez mais presentes no vocabulário da sociedade e até do próprio partido governista; volta da CPMF; atraso na data tradicional do repasse da 1ª parcela do 13º dos aposentados… Uma consequência: dólar chegando ao patamar de R$ 4… E com aparente fôlego para mais. A competitividade da carne bovina brasileira sobe muito, mas não na mesma proporção das nossas vendas externas, afinal de contas, como noticiou o NF2R da semana passada: “o pôblema não é câmbio, mas sim, diferencial”. Diferencial de potencial de consumo da economia dos países importadores, afetados, dentre outros motivos, pela crise no preço do óleo bruto (o petróleo “não firma”, chega a USD 48/barril e retorna para USD 44).

6.1.3) Brechós e carros usados: em alta, com aumento de vendas da ordem de 25 a 40%. Na mesma linha, segue a valorização da carne do dianteiro ao longo de 2015…

6.1.4) BMF “no estilo do Sergião Berranteiro”: já tem frigorífico agendando bois para o mês de outubro a fora. Estamos a praticamente uma semana e meia do outubro se tornar mês presente e mesmo assim a bolsa precifica cerca de R$ 5 a 7/@ de alta para a entressafra. Comprar o mercado nestes níveis, é o famoso “aí tem coragem”, como diria o famoso berranteiro goiano. Ou então, uma boa oportunidade de venda!

6.2.) A SÍNDROME DO RETROVISOR

Voltando ao tema que iniciamos este e explicando melhor os dois jargões do mercado financeiro citados (“pessoa física só entra no fim da festa” e “se a conversa chegou no barbeiro, é melhor vender mesmo”), dois fatos restam intrínsecos neles.

O primeiro é a inexperiência dos aplicadores e o segundo é que em consequência desta inexperiência, também ocorre um aumento de volatilidade nos mercados. Em geral, pessoas físicas tem pouquíssima resiliência (estômago) em manter aplicações que estão em queda, principalmente se envolver perda do capital investido. Mas, em mercado financeiro, há momentos em que é necessário ter a faca nos dentes e seguir o enterro…

O fato de a conversa estar no “barbeiro ou no engraxate” revela que o momento pode ser realmente de sair da operação financeira, pois a figura das duas profissões populares implica dizer, que há “pessoas físicas” compradas em excesso e a chance de elas não suportarem um “leve” movimento de baixa é grande, o que poderia levar este “leve” movimento a se transformar num movimento “pesado”.

A frase “ganha mais quem consegue identificar a hora de remar contra a corrente consensual” (Sthulberger, revista Veja de Jun15), resume muito bem tudo o que está acima.

E o que isto tudo tem a ver com o bovino? Pois bem… em nossa visão, como dissemos no NF2R da semana passada, a pecuária manteve o seu grau de investimento… Mas vejam estes fatos:

*ao ver o adesivo “BOINVEST” na camionete da Fazenda, um Pai de um amigo do meu filho (dentista) me perguntou: “este ‘trem’ de boi está dando dinheiro mesmo? Uns amigos estão me falando… Eu queria investir nisto, esta ‘firma’ presta este tipo de assessoria, você faz isto”? Obs.: no interconf escutamos muitas pessoas, notadamente profissionais liberais com o mesmo raciocínio acima.

*ao escutar minha conversa ao celular, o taxista que me levava ao aeroporto, disse-me: “o Sr. trabalha com fazenda? Parece que este negócio está dando dinheiro, principalmente bezerros. Meu sogro vendeu todas as vacas de leite dele e comprou uma vaquinhas ‘baias’. Está feliz da vida. Até eu ‘tô’ pensando em pôr um ‘dinheirinho’ nisto”.

Todo mundo está querendo entrar na pecuária, “o povo tá parecendo berne em cima de vaca preta”. E pouquíssima gente que quer investir em pecuária está levando em conta o ciclo pecuário. O IBGE deixou claro que estamos numa fase plena de retenção de fêmeas (queda de 9.2% no abate de bovinos, sendo de 14.4% para vaca e de apenas 4.7% para machos no primeiro semestre de 2015, frente ao mesmo período do ano passado). Isto levará a uma normalização da produção de bezerros crescente e gradativa nas safras 15/16 e principalmente na safra 16/17 em diante.

Portanto, a pecuária não perdeu o grau de investimento, em nossa opinião, mas não é por isto que o ciclo pecuário não deve ser considerado, se você pondera investir em bovinos. Com este raciocínio, você estará isento do que chamamos de Síndrome do Retrovisor, que é o erro de se tomar as decisões estratégicas que nortearão o futuro do seu negócio baseado no passado recente de preços, imaginando (sim, a palavra é esta mesmo) que o mesmo nível de preços deste passado, ocorrerá no futuro.

É importante sim olhar o passado dos preços, mas somente para entender a relação que os vários indicadores de preços guardam entre si. O ciclo pecuário e os ciclos de preços da agricultura são determinados principalmente por este tipo de erro decisório. Fica o alerta. Cuidado para não entrar no final da festa. Que a sua semana seja repleta de luz, prosperidade e boa energia!

Fonte: Beef Point, Por Rodrigo Albuquerque & Ricardo Heise.


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