O maior cabo de guerra do mercado pecuário da década
O maior cabo de guerra do mercado pecuário da última década, quiçá da sua história. A pecuária Goiana e Brasileira descrita por quem a vive e “carrega o pó da viagem”.
O mercado pecuário passa comumente por períodos em que a oferta é alta em relação à demanda (talvez como em 2006) ou mesmo por períodos em que a demanda é alta em relação à oferta (talvez como em 2010).
A primeira coisa a se notar é que ambas (oferta e demanda) estão em sentidos antagônicos, muitas vezes. E o resultado se desnuda nestes casos por desvios de preços fortes, que fazem os mesmos atingirem os extremos, respectivamente, na ordem citada no parágrafo anterior, para baixo e para cima.
A segunda coisa que chama a atenção é que a caracterização de “alta” ou de “baixa” tanto para oferta, quanto para a demanda, é chancelada uma em relação à outra. Existe uma relatividade do nível em relação ao que a outra está no momento. E assim caminham os preços…
E hoje? Estamos vendo uma briga de gigantes, que na nossa avaliação é constitui o maior cabo de guerra da pecuária brasileira. Adiante, “antes que o lático seja bambeado”.
1) COMO ESTÁ O NOSSO TETO (SP/MS)?
Fora a enorme variação das máximas do intervalo de preços captado pelo indicador, o que vemos é uma estabilidade como tendência macro. Saímos de R$ 141,11/@ (variando de R$ 137,50 a R$ 145,00) e chegamos em R$ 140,27/@ (variando de R$ 138 a R$ 143,50), da mesma forma que a semana anterior, “numericamente uma queda, a qual, em termos de nossa caracterização analítica, representa muito mais uma estabilidade”.
No encerramento da semana foram vistos negócios entre o R$ 138 até R$ 143/@, base SP, à vista; Na “terra do tuiuiú”, o nosso querido estado do Mato Grosso do Sul, manteve-se o nível de R$ 135/@ ap ou até av, dependendo das condições da boiada. Nada de novidade, portanto.
As escalas paulistas seguem trazendo conforto para o comprador de boi, em nível acima da média do ano. A “toada deles está mais macia de câmbio de Monza”, com o padrão de se ter uma semana completa e alguma coisa da semana seguinte, estando a maioria entre o dia 24 a 26/ago, ou seja: o dia “DIA D” sobe para 7 dias úteis (entre o dia do acordo da venda e o dia do abate), repousando sobre a terça, dia 25/ago.
O STATUS DO BEEFRADAR aponta irrestritamente para estabilidade, com iguais percentis para alta e para baixa:
27.5% queda (leve) : 45% estabilidade : 27.% para alta (leve)
2) E AQUI, NA TERRA DO PEQUI?
Os pequis continuam no mesmo lugar… o boi comum, de preço “balcão” R$126/@av x R$ 128/@ap (prêmio EU variando de acordo com cada indústria, entre R$ 1 e R$ 2/@) segue sua toada, mas com o preço de R$ 129 a R$ 130/@ ap, já bem comum.
As escalas, que tinham encurtado sobremaneira recentemente, parece que voltaram a aumentar um pouco, aumentando o número de plantas com a próxima semana fechada e escala entre sexta (21) e segunda (24). Programações de bois de contrato fazem algumas unidades precisarem de pouco volume para fechar o mês de agosto.
Quanto ao diferencial de base com SP, uma boa nova: parece que o pior já passou, pois este indicador fechou um pouco esta semana, voltando para R$ 9 a R$ 12/@ de deságio (talvez em função da escala mais apertada daqui). Com relação à diferença da arroba de fêmea para a de macho em GO, houve uma leve abertura. Terá sido uma acomodação normal, ou um indicativo de que a diferença mais apertada do ano entre boi e vaca se foi? “Tô mais” para a primeira opção, mas as próximas semanas nos mostrarão o que de fato houve (ainda não há motivo para que esta diferença seja aumentada).
3) HORA DO QUILO: “Todo dia acorda um bobo e um ativo. O problema surge na hora que eles ‘tópa’, na volta do dia” (Ricardo Heise, espetacular).
4) TO BEEF OR NOT TO BEEF: como diz o nosso amigo, José Mario Schreiner, “nós somos o Brasil que dá certo”. É exatamente o título da matéria que recomendo:
http://www1.folha.uol.com.br/especial/2015/brasil-que-da-certo/
5) O LADO “B” DO BOI:
5.1.) RAPIDINHAS DO BOI
> Dinamismo total: a procura pelo boi magro volta a aumentar pois com algumas ofertas no peso e com os atuais preços da bolsa (uma “baita” oportunidade ao nosso ver), a conta voltou a fechar, ao menos aqui em GO. Isto não é homogêneo em termos de Brasil Central, a ponto de nesta semana, a Acrimat ter noticiado através da mídia, que prevê redução de mais de 20% no total de bois confinados de agora em diante;
> Notícia Internacional (1): a agência Moodys rebaixou a nota do nosso País, mas o manteve como grau de investimento e na lista de “bons pagadores”, com perspectiva de estabilidade. Farol amarelo, mas poderia ter sido pior, o que complicaria mais ainda os investimentos por aqui…
> Notícia Internacional (2): a China desvalorizou a sua moeda, o YUAN, com a finalidade interna de manter o crescimento e o emprego e a finalidade externa de ratificar sua posição de destaque econômico mundial. Parece que a coisa por lá não vão muito bem, ou até um pouco pior do que se imaginava. Tomara que a estratégia dê certo, pois uma China fraca não é bom para ninguém, muito menos para o Brasil, que tem naquela País grande parte de suas exportações presentes e futuras (como é o caso da carne).
> Notícia Internacional (3): com a elevação das expectativas de produção da safra americana de soja e de milho, além dos rumores sobre a demanda chinesa possivelmente menor, derrubaram cotações dos produtos internamente esta semana, tirando a firmeza do mercado vista até então;
> Vai a pé ou vai de “car”: o maior frigorífico brasileiro, o grupo JBS, anunciou que não comprará mais de pecuaristas que não tenham o car, à partir de maio/2016. É a pressão ambiental “dando cada vez mais a cara”. Quem não tiver o CAR, vai ficar a pé. Isto é um desafio para alguns estados do Brasil, que ainda tem a questão dominial rural ainda mal resolvida;
> O carro usado e o carro novo: números da indústria automobilística apontam para uma queda de 20,04% com relação a venda de veículos novos e de um expressivo crescimento de 39,2% de carros usados. Veja a matéria no link a seguir:
Não por acaso, e no mesmo movimento, os preços de carne do dianteiro e do traseiro, apontam para uma situação parecida. Com o poder de compra das famílias sendo corroído em 2015, a demanda migrou do traseiro para o dianteiro. E com isto, a evolução dos preços do ano, considerando os preços que as carnes tinham em 01/jan como “base 100” mostram tendências opostas. Enquanto o traseiro perdeu pouco menos de 10% ao longo deste ano, o dianteiro alcança valorização de cerca de 30%. O dianteiro bovino passou a ser a famosa “compra racional” do carro usado na sua versão adaptada para o mercado pecuário. Para complicar mais um pouco, além do carro usado (dianteiro), apareceu a moto (frango), para dificultar a venda do carro novo (traseiro). Recentemente, o mercado atingiu a maior diferença vista após o plano real entre o dianteiro e o frango. Complica mais um pouco a demanda. Um primo me mandou uma foto do pátio de estoque de carros novos (câmara fria de frigoríficos) de uma grande montadora do ABC paulista. Algo como 60 dias de estoque, fora o que está nas concessionárias (nas rede varejista) e início de muitas férias coletivas (muitas plantas fechadas ou com abate reduzido), em algumas, a quarta seguida. Obs.: as palavras entre parênteses são um comparativo entre os dois setores (automobilístico e de carne bovina) e um indício de que (diferentemente das novelas) as aparências podem não ser apenas meras coincidências.
> Para não perder a conta: desde o pico de preços alcançado pelo bezerro lá pelo final de maio, o preço deste “pequeno animal” (usando as palavras do R.Goulart) caiu cerca de R$ 300/cab, com base no indicador da BMF (estado de MS) e no indicador da praça de Goiânia. Em “grandes números”, saiu de R$ 1.500/cab e voltou para R$ 1.200,00/cab… Os pastos secos e o preço do boi, que vai frustrando no segundo semestre, colaboram para a perda da liquidez do mercado e a redução dos preços de venda, aos poucos.
5.2.) O CABO DE GUERRA
Está chegando a hora da onça beber água. Do mês de agosto, resta apenas uma semana ou menos de escala para ser preenchida e já teremos animais com abate agendado para o mês de setembro. O indicador que teima em seguir entre os R$ 140 e R$ 141 à vista em SP (a média dos últimos 15 fechamentos de mercado é R$ 140,84) já fica cerca de R$ 5 a R$ 6/@ abaixo do valor apontado para a BMF para outubro/2015.
O que vemos como previsão mais provável para a arroba nas próximas semanas ainda é um “surfe nas águas revoltas de um lago pacato”, tal como dissemos no início de jun/2015 (quando o título do Front foi “O BOI DE 2015: TÃO REVOLTO QUANTO AS ÁGUAS DE UM LAGO PACATO?”).
Obviamente que em alguns estados, como Rondônia, o boi caiu forte, cerca de R$ 20/@. Em outros, como no Maranhão, em compensação, o boi nem se mexeu (palestramos em ambos nos últimos dias). Em outros, como Goiás, houve uma queda intermediária, mas importante, de R$ 14/@ (do pico até agora). Atualmente o estado do MT, ensaia um “desmantelo” e a coisa ameaça se complicar, com escalas abarrotadas pelo resto deste mês e rejeição de algumas indústrias pelo boi inteiro. Já em SP, as escalas aumentaram, considerando a média do ano. Está havendo uma heterogeneidade de comportamento dos mercados, naturalmente explicitando as diferenças regionais deste continente chamado de Brasil. Mas, de maneira geral, não há produção suficiente para o boi derreter irrestritamente em nosso País. É fato! Estamos em um ano de queda de produção.
Em contrapartida a demanda interna e externa não dá nenhum sinal de alívio, pelo contrário. Ande nas ruas, nas lojas, no comércio e verá o desânimo a que esta matéria se refere, ou seja, o pior desempenho de vendas dos últimos doze anos:
Aqui em GO, as escalas encurtaram bem nos últimos 10 dias de mercado. E aí ocorreu uma “sinuca de bico” para os frigoríficos. O tal “ajuste de produção” está dizendo à que veio. E até agora, está se saindo “ileso”, postergando uma alta, mesmo com o cenário para ela montado, como mostramos no texto passado.
Mesmo com escalas mais curtas, como foi o caso de Goiás nos últimos dias, não houve “preço para cima”… Mesmo com o dia dos Pais, com a volta às aulas e com a virada de mês, esta semana um pecuarista conhecido de um contato nosso, teve seu abate postergado em cerca de 4 dias porque não havia espaço nas câmaras frias para abrigar a carne de seus bois (em SP). As câmaras frias abarrotadas dos frigoríficos são irmãs gêmeas dos pátios das montadoras…
De alguma forma a indústria mostra que fez muito bem a sua lição de casa ao diminuir o seu abate (o tal ajuste de produção), pois mesmo espremida entre a pressão de oferta ruim e a pressão da demanda igualmente ruim (o que configura o maior cabo de guerra do mercado pecuário da última década e talvez da sua história como está no título deste), nesta semana, ela atingiu a maior margem operacional do ano, segundo os indicadores “Margem Equivalente Físico” e “Margem Equivalente Scot Carcaça” da Scot Consultoria. Inclusive em entrevistas, isto é explicitado: http://www.valor.com.br/agro/4180566/margens-da-jbs-mercosul-devem-se-recuperar-no-3-trimestre-diz-ceo.
O fato é que o tempo, o melhor amigo da verdade, é também o maior inimigo deste ágio que a bolsa precifica para o contrato de outubro. Estes R$ 5 a R$ 6 de alta em relação ao indicador atual de SP, são bem possíveis de ocorrerem, mas vão se tornando cada vez mais distantes e mais improváveis, à medida que o outubro diminui o espaço de tempo para se tornar mês presente.
A verdade é o ágio correto sempre prevalecerão no mercado. Tomara que a sua imaginação à cerca deste ágio para o mês de outubro/novembro esteja em linha com o nível que o mercado exercerá neste futuro, que se apresenta cada vez mais breve.
Que o tempo, além de amigo da verdade, seja também seu amigo, agregando-te entendimento, conhecimento, sabedoria e que mantenha, sempre em boa medida de fartura, a tua indispensável saúde. São os nossos desejos, até a próxima oportunidade, se Deus assim nos permitir!!!
Rodrigo Albuquerque (@fazendaburitis) & Ricardo Heise (@boi_invest), Num trabalho feito a 4 mãos…
Fonte: BeefPoint, Por Rodrigo Albuquerque e Ricardo Heise.
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