Perspectiva dos americanos sobre política do Brasil

Para quem tem pressa:
A venezuelização política do Brasil voltou ao centro dos debates em Washington. Relatórios de cinco think tanks norte-americanos (Heritage Foundation, Cato Institute, CSIS, Atlantic Council e Freedom House) apontam concentração de poder no STF, crescimento da censura on-line e risco de inviabilizar a alternância em 2026. Essas análises internas concluem que, sem pressão imediata da Casa Branca, o país pode deslizar para uma ditadura judicial.

Instituições democráticas do Brasil versus temores de “venezuelização”

O termo “venezuelização” descreve a possibilidade de o Brasil caminhar para um autoritarismo e disfunção semelhantes aos da Venezuela. Embora o Congresso continue ativo, o STF atuante e as eleições sejam regulares, críticos apontam que, na prática, o Judiciário estaria assumindo prerrogativas legislativas. A direita também acusa o STF de perseguir candidatos conservadores durante a eleição de 2022, ao policiar fake news e decretar prisões. Esse debate interno inspira analistas nos EUA a avaliar se o Brasil está em “rota acelerada” para o mesmo tipo de erosão institucional vivido por Caracas.

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O que são think tanks — e por que importam?

Think tanks são centros independentes de pesquisa que produzem estudos para subsidiar formuladores de políticas públicas. Nos Estados Unidos, seus relatórios costumam pautar debates no Congresso, sustentar discursos do Departamento de Estado e influenciar a imprensa.

  • Heritage Foundation – conservador, foca em segurança e valores (relatório “The Left’s Lawfare in the Americas”).
  • Cato Institute – liberal clássica, defensor das liberdades civis (análise sobre o PL 2630).
  • CSIS (Center for Strategic and International Studies) – centrista, referência em estratégia global.
  • Atlantic Council – voltado à política externa do Atlântico Norte.
  • Freedom House – ONG que publica o índice anual Freedom in the World.

Por que falam em venezuelização?

  1. Heritage Foundation compara o Brasil às primeiras manobras de Hugo Chávez, citando uso do Judiciário para neutralizar rivais.
  2. Cato Institute afirma que o novo regime de responsabilidade das plataformas representa a maior ameaça à liberdade de expressão no Ocidente.
  3. CSIS alerta para “erosão illiberal”, observando que leis de desinformação no Brasil copiam Cuba e Venezuela.
  4. Atlantic Council classifica o sistema político como “democracia em stress-test” desde 8 de janeiro de 2023.
  5. Freedom House aponta que a nota do Brasil é de 72/100, mas registra uma tendência contínua de queda desde 2017, quando o país alcançava 79 pontos — em um declínio constante ano após ano.

Vozes brasileiras: o alerta de Fabricio Rebelo

O jurista e jornalista Fabricio Rebelo publicou, em julho de 2025, no X, uma análise que ecoa as avaliações feitas por think tanks norte-americanos. Ao comentar a nova leva de sanções dos EUA, ele destacou cinco pontos que ajudam a entender o momento político brasileiro sob uma ótica internacional.

Antes, porém, faz um alerta crucial: qualquer análise do cenário jurídico atual precisa partir do pressuposto de que o Brasil está sob um Estado de Exceção. Sem esse reconhecimento, diz ele, torna-se impossível compreender o que de fato está em curso.

Sanções raramente derrubam ditaduras
Rebelo lembra que embargos econômicos e pressões diplomáticas nem sempre produzem mudanças de regime. Cuba e Venezuela resistiram por décadas, mesmo sob forte isolamento externo.

O problema está no timing
Segundo ele, parte do fracasso dessas estratégias se deve ao fato de serem lentas e graduais. Quando o regime já avançou no autoritarismo, sanções pontuais chegam tarde demais e com pouco impacto.

Regimes aprendem a contornar punições
Em contextos autoritários, os governos se adaptam rapidamente: encontram brechas, anestesiam a população e seguem concentrando poder. Isso torna cada nova sanção menos eficaz do que a anterior.

No Brasil, a aposta é no choque simultâneo
Diferentemente de casos anteriores, a estratégia americana agora parece ser lançar todas as sanções de uma só vez, criando uma situação-limite. A metáfora usada por Rebelo é direta: em vez de aquecer a água aos poucos, jogam o sapo direto na fervura — para ver se ele pula da panela.

Funcionar é difícil, mas possível
Rebelo reconhece que essa abordagem tem eficácia incerta, sobretudo diante de um governo disposto a sacrificar a economia para manter o controle político. Ainda assim, ele considera que essa ofensiva repentina pode ser a única chance real de romper com o atual Estado de Exceção.

Medidas já debatidas nos EUA

  • Tarifa de 50 % sobre importações brasileiras — anunciada por Donald Trump em julho / 25 como reação à “perseguição” a Bolsonaro.
  • Revogação de vistos de oito ministros do STF — gesto inédito que sinaliza considerar o tribunal parte do problema.

Essas iniciativas refletem, provavelmente, a leitura americana de que a venezuelização política do Brasil representa um risco imediato — e não uma mera hipótese.

Consequências para o agronegócio

  1. Tarifas podem pressionar preços de carne, soja e café, reduzindo margens.
  2. Investidores externos tendem a exigir prêmio de risco político, elevando o custo de capital.
  3. Perda de credibilidade em fóruns multilaterais pode travar a abertura de novos mercados.

Conclusão

Nos bastidores de Washington, predomina a visão de que, sem ação rápida, a venezuelização política do Brasil deve intensificar-se, restringindo liberdades civis e colocando em dúvida a alternância em 2026. Para produtores rurais e demais setores produtivos, acompanhar esse eixo Brasília–Washington é vital: estabilidade institucional garante mercados, financiamento e competitividade global.


Links das fontes principais (think tanks dos EUA)

Imagem principal: Depositphotos.


Artigo de opinião

Este texto baseia-se em relatórios públicos de Heritage Foundation, Cato Institute, CSIS, Atlantic Council e Freedom House. As conclusões refletem exclusivamente a interpretação do autor e não representam, necessariamente, a posição institucional do Agron ou de seus colaboradores.

Transparência e direito de resposta: autoridades ou pessoas citadas que desejem apresentar esclarecimentos podem escrever para 👉 contato arroba agron.com.br; publicaremos a réplica conforme nossa política editorial de pluralidade e boa-fé.

Isenção de responsabilidade: foram incluídos links diretos às fontes originais. Ainda assim, o conteúdo constitui análise de cenário político e não se destina a fornecer aconselhamento jurídico, financeiro ou de investimento.

Douglas Carreson

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