O que buscamos com um programa de melhoramento genético

Quando se inicia um programa de melhoramento genético, deve-se avaliar cuidadosamente a situação de cada produtor. Geralmente o que esperamos é obter animais que darão maiores lucros, em geral, animais que agrupem as seguintes características: produção de grande quantidade de leite por lactação, longevidade (muitas lactações) e maior preço de mercado do leite produzido.O preço de mercado do leite é um fator importante ao se definir os objetivos da seleção.
 
Os primeiros dois fatores mencionados acima são biologicamente comuns em todas as vacas no mundo; porém, o preço de mercado do leite pode fazer com que os objetivos de seleção sejam diferentes entre diferentes países e mesmo dentro de regiões diferentes em um mesmo país.
 
Dependendo da maneira em que o preço do leite é estabelecido, a estratégia mais rentável para um produtor de leite pode ser selecionar vacas que produzem: – O maior volume de leite, independentemente da composição do mesmo; – O maior volume de leite e quantidade de gordura;- Maiores quantidades de gordura e proteína, independentemente do volume produzido;- Maiores quantidades de leite e proteína dentro do menor volume de leite possível.
 
Características de produção
Quando optamos por uma estratégia de seleção, devemos lembrar que a genética será estabelecida a longo tempo. Objetivos de seleção que permanecem inalterados por muitos anos produzem melhores resultados, pois a seleção tem um pequeno efeito, porém este efeito é acumulativo sobre as gerações dos animais. Além disso, quanto mais tempo estes objetivos forem mantidos, maiores serão os ganhos genéticos ao longo do tempo.

Um exemplo claro disso foi no programa de seleção implantado nos EUA, onde levou-se perto de 20 anos de seleção (de 1965 a 1985) para melhorar o mérito genético para produção de leite em 1.000 kg. Porém, mesmo as estimativas mais conservadoras indicam que nos próximos 20 anos o mérito genético para a produção de leite deve aumentar em mais de 6.000 kg.

Longevidade (tempo de produção) e conformação

A longevidade é uma característica desejada por muitos produtores e não significa idade avançada; vacas que vivem mais somente terão valor se a idade for acompanhada por alta produção de leite. Não devemos selecionar somente para longevidade, pois muitos fatores podem influenciar esta característica, e na maioria das vezes estes fatores não têm natureza genética. A herdabilidade da vida de rebanho é de 8% (baixa herdabilidade).

Além disso, são necessários de 7 a 8 anos para que as filhas de um touro completem a vida dentro de um rebanho, que é o tempo necessário para calcular de maneira confiável o PTA (capacidade prevista de transmissão) estimado para estes touros. Passado este período de tempo, o touro pode até já estar morto, ou o mérito genético deste touro pode ter sido ultrapassado por outros touros mais jovens. Na realidade, a longevidade de vacas em muitos rebanhos depende principalmente de três fatores:


– Não ter casos sérios de mastite
– Não ter problemas sérios de reprodução (habilidade para reproduzir-se)
– Ter produção de leite aceitável para o fazendeiro

Tipo funcional: úbere, pernas e pés

Características de conformação, geralmente não são bons preditores de longevidade. Pesquisas mostram que as características de produção são melhores preditores de longevidade que qualquer outra característica de conformação. Portanto, a seleção do touro deve ser feita baseada nas características de produção e, secundariamente, em características de conformação. Na verdade, a longevidade seria automaticamente selecionada por índices que eliminam o uso de touro com baixo PTA para produção, e obviamente, para conformação e problemas reprodutivos.

Dentre todas as características de conformação, as características de úbere e em particular o posicionamento dos tetos, profundidade do úbere e inserção de úbere, são mais associados com longevidade. Pesquisas mostram que vacas com profundidade de úbere média ficam no rebanho mais tempo que vacas nos dois extremos (úbere raso e úbere profundo). Isto acontece pois vacas com úbere raso tendem a produzir menos leite e vacas com úberes muito profundos estão mais predispostas à mastite e a acidentes físicos.

Muitos produtores dão grande importância para pernas e pés, porém estudos em desempenho durante a vida da vaca sugerem que pernas e pés têm uma importância muito menor na vida de rebanho que características de produção ou características de úbere.

Características de produção e o tipo funcional

Apesar do pensamento comum de que características funcionais melhoram a longevidade de vacas leiteiras, as vacas são raramente descartadas devido a problemas de conformação. Não existem dúvidas de que traumas em úberes são mais comuns em vacas com úberes pendulares, e de que vacas com sérios problemas de pernas e pés precisam ser descartadas em certas ocasiões. Porém, se o animal está produzindo uma quantidade boa de leite, a maioria dos fazendeiros prefere manter estes animais no rebanho. Produtores freqüentemente têm que descartar vacas com problemas de saúde, com problemas metabólicos ou desordens reprodutivas, independentemente da conformação do animal.

Portanto, é sempre importante manter em mente que, economicamente, as características de produção são muito mais importantes que características de conformação. A maioria dos estudos econômicos nos EUA sugere que as características de produção devem receber de três a cinco vezes mais importância que características não relacionadas a produção de leite na priorização da seleção genética.

Vacas de grande porte e vacas de pequeno porte

O porte dos animais tem sido um dos assuntos de grande destaque dentre produtores do mundo todo. Como as demais características discutidas anteriormente, o tamanho do animal depende de componentes genéticos e de ambiente.

Vacas maiores comem mais e, portanto, produzem mais. Porém, o tamanho não está intimamente relacionado com maiores produções de leite. Em outras palavras, a seleção para maior produção de leite não necessariamente aumenta o tamanho corporal. Na realidade, um projeto que foi iniciado em 1968, mostra que o ganho genético para produção de leite é tão rápido em vacas de pequeno porte como é para vacas de grande porte. Porém, vacas de grande porte têm maior ingestão de matéria seca para manutenção. Portanto, quando a produção de leite é igual, vacas menores são mais eficientes que vacas de grande porte.

Referência Bibliográfica

FERREL, C.L.; JENKINS, T.G. Cow type and the nutritional environment: nutritional aspects. Journal of Animal Science, Champaign, v.61, n.3, p.725-741, 1985

 
O presente artigo de autoria da Engenheira Agrônoma Rafaela Carareto foi publicado originalmente no Milkpoint

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